quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Senhores Doutores




Carta a todos os fidalgos que mandam e mandaram, e que de certa forma continuam a mandar, nesta vossa, que deveria ser nossa nação.

Caríssimos,

Falemos de recordações, falemos da infância. O meu avó tinha a segunda classe, se tanto. Descascava pêssegos como ninguém. No verão, após o almoço, ia até ao pomar e trazia-me o melhor pêssego da árvore, pegava na navalha que religiosamente colocava todos os dias no bolso das calças, no outro bolso tinha um lenço, daqueles de caris...ma. Do tempo.
E enquanto descascava o pêssego, contava-me da importância de nós próprios sabermos descascar um pêssego, assim como de o plantar. E cuidar. É como aquela história, é mais importante ensinar a pescar, do que dar o peixe.
O meu avô ensinou-me entre outras coisas, a importância do trabalho, da humildade, e do aprender a fazer. De lutar sem passar por cima dos seres-humanos.
E vejam vocês lá bem. Que o António não completou a instrução primária. Não é magnífico?
Vocês que completaram a instrução primária, que fizeram o ensino básico e secundário. Foram para a universidade tirar Doutoramentos e isto e mais aquilo, e não aprenderam o respeito, a humildade, o civismo.
E depois com uma cara de pau, ainda exigem serem tratados por Senhores Doutores.
Doutores há nos hospitais, e vocês deviam era trabalhar no ferro velho. Tamanha é a lata com que andam para aí a existir dia após dia. Sim, existir. Porque isso meus amigos, não é viver. É limitarmo-nos a existir.
Como é que vocês podem mandar num país, quando não conhecem a realidade do país, quando não sentem o povo no seu conjunto como sendo cada cidadão um ser humano, e não um número. Isto é como tudo, um patrão não pode descer as escadas do escritório e ver o que se passa com os empregados só na altura de exigir horas extras. Quem não sabe trabalhar, não pode mandar. Esta por acaso não foi o meu avô que me ensinou, foi o filho dele.
Politiquice é diferente de Política, e vocês, meus senhores o que fazem são politiquices. Uma semi-política a roçar o ridículo. A roçar. Atenção, não toca. Porque o ridículo, quando usado com um certo charme, até tem muita graça. E os senhores não têm gracinha nenhuma, lamento.
Mas não lamento por vocês. Lamento pelos adolescentes que têm de trabalhar à noite porque os pais têm quarenta anos e já estão velhos para trabalhar, lamento pelos idosos, que ou têm dinheiro para a comida ou para a farmácia. Lamento por todas as famílias que não têm euros para pagar as contas da água, da luz, da mercearia. Lamento por todos os seres humanos que são boas pessoas e que têm que passar por dificuldades. E pela mãe que vi hoje a chorar porque não tinha como colocar comida para os três filhos que tem em casa. Lamento por todos as mães deste país. Lamento todos os meses descontar para vocês andarem a fazer sabe-se lá o quê. É que se eu descontasse para haver melhor educação, melhores hospitais, cantinas socias…. Era uma coisa e até sorria ao dar-vos os euros. Agora isto?
De coração, e sem qualquer tipo de sarcasmo, lamento pelos vossos avôs. Porque aqui bem dentro do meu miocárdio, acredito que vocês também tiveram um avô que descascava pêssegos como ninguém, e que vos transmitiu certos valores. Aqueles que não se vêm. Mas valem tudo.
Falemos de infância. E de recordações. E daquela vez que o meu avô disse para nunca me apaixonar por um político. Que era a pior raça de homens que existe. O que ele se esqueceu de dizer, é que mesmo que não esteja apaixonada por nenhum político, que tinha que sustentar não sei quantos deles, todos os meses.

Cumprimentos aqui da vossa namorada,
Estranha pessoa esta
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Hannah

Não gosto de me guiar por mapas.
Nem por agendas. Nem ponteiros. Tic tac’s só no miocárdio.
Também não gosto de gestos previamente ensaiados. Arquitectados.
Gosto de impulsos.
Do imprevisto. O que eu gosto do imprevisto. Junto com impulsos. Gosto tanto.
...
Foi num desses impulsos do imprevisto, ou ao contrário também dá, que conheci Hannah.
Senhora de um quê de dissemelhante. Sentada num banco de madeira, lia o jornal sobe os graus negativos que se faziam sentir. Retina grande. Antiga actriz de teatro dos anos 60.
Nos sapatos de sola fina, a imagem da maschera nobile. Curiosos aqueles sapatos. Como curioso era tudo em Hannah.
Chamou-me para dentro da sua loja. Trajes e mais trajes do outro século e ainda do outro. Parecia que estava dentro duma máquina do tempo. Sublime, verdadeiramente sublime aquela loja no meio daquele beco perdido com aquela senhora de conversa agradável.
Conversamos sobre a Grécia antiga, sobre filosofia e também sobre sentimentos.
Curiosa esta vida de pessoas qua ainda vão tendo a coragem de serem diferentes, de terem aquele charme tão eloquente do que é intenso e bonito.
Hannah conhece Lisboa, e o que mais gostou foi da ladra, que se diz feira. E da vista. E do Tejo. E do mar.
Combinamos a ausência de informática para a troca de partilha do clicar. Este segue por carta, assim como uma concha, deste mar que é tão nosso.
Hannah foi de um enorme prazer conversar contigo e partilhar um pouco da minha estranheza.
E é por isto e por outras tantas coisas, que uma pessoa mesmo que viaje sozinha, nunca está sozinha. Existem pessoas fantásticas em cada esquina.
À nossa espera.
No imprevisto.
E eu gosto tanto disso.
Improvisa ;)

[Na ardósia uma citação de Rumi, filósofo preferido de Hannah]
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— em Amesterdão | Holanda

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

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